sábado, 14 de junho de 2014

metrô

Já era sete da manhã. O sol ia espalhando seus raios entre as brechas deixadas na cortina que deveria tapar qualquer incomodo. Atrasado por duas horas, resolvi não mais ir à escola naquele dia. Enrolei-me na coberta decidindo levantar. Dei um beijo na testa do Augusto como uma avó na tentativa de proteger seus netos; beijo de bênção. Andei até a cozinha enrolado no tecido que, agora, estendia-se par além de mim. 

O telefone tocou anunciando pela quinta vez que havia esquecido da minha mãe. Recusei. Coloquei meu celular na bancada da cozinha. Entornei o café de ontem na minha caneca do Starbucks; presente do Guto, daqueles comprados no centro da cidade outro dia desses. No micro-ondas por causa da rapidez, me dei conta de que não havia porque ter pressa. Tirei, coloquei na leiteira. Fogo aceso, café esquentando. Augusto sentou ao meu lado, folheou os textos da faculdade abandonados desde ontem antes de irmos para cama. “faz a resenha para mim?”. Ainda enrolado no cobertor, abri seu computador e comecei a dedilhar como sempre pelo teclado. Com caneca ao meu lado esperando as goladas esporádicas, as palavras foram aparecendo na tela. Trabalho feito, um beijo na testa por recompensa. 

Antes de se sentar-se para assistir seu filme preferido. E eu não esbravejei meus sinceros sentimentos. Eu o amava. Terminei, salvei em seu pen drive verde e gentilmente coloquei-o em sua bolsa da faculdade. Sentei-me ao seu lado; o clima azulado. Não éramos os únicos. Havia um terceiro entre nós dois, mesmo naquele sofá apertado.

Com a mochila nas costas, desci as escadas rapidamente, com a certeza de que eu pudesse voltar a abrir aquela porta com a minha chave, feita na esquina no dia em que completamos seis meses. Peguei meu celular no bolso, descendo os sete andares que faltavam. Liguei para minha mãe e avisei que estava bem; dei notícias dos meus últimos dias. Sua respiração, enfim, aliviou-se. Sabia que eu estava voltando para casa. Fui, não olhei para trás; nunca gostei de ménage à trois, afinal. Entrei no metrô sentido minha casa. Dessa vez minha caneca estava indo comigo.

   

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