quinta-feira, 23 de outubro de 2014

tempos de ditadura

   O olhar daquela menina me matava lentamente. Sempre com suas cores confusas e predestinadas, ela dançava ao andar, deixando seu arredor com um tom cinza tempestade. Roupas de humanas, chapéu na mão, seus lábios desenhados a guache por Deus era uma obra prima com um primor peculiar. Ejetava palavras graciosas, cortantes como uma espada que perfura um abdômen e dele faz jorrar o quente líquido da vida, vivo que só ele. Sua voz suave como um sorvete cremoso de morango soava clichê, comparada às vozes dos mesmos anjos que cantam eternamente e encantam os céus.

   O olhar daquela menina me matava lentamente. Era uma tortura arquiteta e cautelosamente pensada para te torturar. Seus olhos tristes refletiam uma angústia exteriormente pessoal apesar de suas feições ligeiramente pálidas imprimirem faces de prazeres mútuos, de felicidades plenas; eram mentiras aderidas a sua realidade.  Era pressionada, controlada, ela torturava com seu sofrer. Marcada interiormente com as marcas e restos cuspidos de palavras desmotivadoras e reacionárias, como um animal que recebe o ferro pelando em sua pele e calado. Seus olhos eram militantes. Lutava pela libertação de toda a alma da menina. Ela vivia um diário sessenta e quatro. Seu olhar mostrava isso.

   O olhar daquela menina me matava lentamente. De felicidade eu morria porque estava esperançoso com ela, como uma mãe que deseja ver seu filho que ainda nem nasceu e descansa em seu útero. Tinha alma jovem, e corpo que tendia para o livre. Ideais de quem quer a vida e sua liberdade acima de tudo. Era como um pássaro que, mesmo nos grilhões há anos, ainda mantinha a fé que viveria para transpassar a pequena porta de sua cela e bater suas asas rumo a qualquer lugar. Era diferente de sua mãe, mesmo assim grata pelo que fizeste. Pensava solto, almejava grande. Essa menina ainda tinha muito que andar. Vai longe!

   Mesmo me matando dolorosamente, o olhar daquela menina também me revivia. 

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